segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Tamagotchi

"I'm not crazy, I'm just a little unwell.
I know right now you can't tell.
But stay awhile and maybe then you'll see a different side of me.
I'm not crazy, I'm just a little impaired.
I know right now you don't care.
But soon enough you're gonna think of me and how I used to be."
(Unwell, Matchbox Twenty)



Eu só queria estar bem.

Já faz um tempo desde quando me senti bem. E eu sei que posso estar sendo muito injusto com a situação e o momento de tantas outras pessoas que estão passando e/ou passam todo dia por situações mais difíceis do que a minha. Mas, neste momento, eu já não estou mais aguentando pensar no todo e relativizar o que é ou não pior do que o que eu estou passando. A única coisa que consigo focar, no momento, é: eu não estou bem.

Às vezes eu fico tentando lembrar de quando estive bem, de quando me senti bem, de quando estar bem não era um problema, e somente o fato de pensar nisso já me deixa mal.

Isso porque quando eu olho para trás eu vejo, primeiramente, o quão distante está essa sensação que tanto busco. Eu olho para aquele Felipe e me dói muito. Aquele Felipe, que tanto tinha a capacidade de se sentir bem, mudou. Nunca mais vai voltar a existir. Ele mudou. Se tornou eu.

Eu, de certa forma, me sinto o oposto daquele Felipe.

Ele ganhava mal; eu ganho o triplo que ele.

Ele raramente sentia vontade de chorar e ainda mais raramente deixava o choro escapar; eu tenho vontades constantes de chorar e sinto como se minha cabeça implorasse para eu não conter mais o choro.

Ele, todo distraído, romântico, confortável, focado, competente, admirado. Eu, todo perdido, melancólico, vazio, frustrado, incompetente, carente.

Ele tinha poucos amigos, poucas pessoas da família em volta, e sinceramente ele mal se importava. Ele precisava de carinho, de amor, de atenção, de abraços, de presença, de afeto, e ele não tinha tudo isso na quantidade que sempre precisou. Mas ele não se importava. Ele conseguia suprimir tudo o que precisava em prol daquela sensação que tinha de que ele estava bem.

Eu conheço bem mais gente que ele. Já fiquei com muito mais garotas que ele. Tenho muito mais gente na lista de colegas e contatinhos que ele. Mas continuo com poucos amigos. Continuo com poucas pessoas da família em volta. E, ao contrário dele, eu me importo com isso. Não queria, mas me importo. Me importo muito. Me importo demais.

A carência de carinho, de amor, de atenção, de abraços, de presença, de afeto, me abala todos os dias. Ela aflorou; vazou; saiu. E, hoje, tudo o que foi suprimido voltou à tona com ainda mais força e é como se ninguém fosse capaz de me dar o que eu preciso, com a frequência que eu preciso, na quantidade que eu preciso. Eu preciso de muito. Eu preciso demais.

A
s pessoas que tenho na minha vida são excelentes, mas não estão ali por mim o tempo todo. Não podem – talvez nem mesmo querem – me dar abraços ou carinho o tempo todo. Mas isso me faz muita falta. Isso me faz falta demais.

Elas me perguntam do meu dia. Elas querem saber das coisas que fiz. Elas me dão conselhos. Mas em 2019 isso tudo vem, em sua grande maioria, na luz de uma tela - que está muito longe de ser a luz no fim deste túnel em que me encontro. Elas perguntam se eu comi, se eu dormi, se eu gostei do passeio, se eu estou animado, se melhorei da gripe. Me sinto como um tamagotchi. Um bichinho virtual, dependente, frágil.

Se o tamagotchi está feliz, ele acena com um sorriso, assim como eu faço para fingir que estou bem, amparado pelo fato de a tela não poder mostrar minha real expressão. Se o tamagotchi não está bem, ele morre e magoa a pessoa que tentou cuidar dele. Mas, logo em seguida, essa pessoa aperta um botão e... pronto; lá está outro bichinho para ser cuidado, repleto de dependência e de risadas para prover.

A diferença é que eu tenho uma vida de verdade, uma real, uma em carne e osso.

Tal como a minha vida, eu preciso de tudo de verdade, real, em carne e osso.

Tal como o tamagotchi, se eu perder minha vida, eu vou magoar quem se importou comigo.

Mas, tal como no jogo, logo aparece outro bichinho para ser cuidado e... pronto; eu viro somente uma lembrança, cada vez mais fraca, cada vez mais distante.

Muitas pessoas tentam me convencer do contrário, incluindo eu mesmo. Mas não consigo acreditar em algo que não seja isso.

Acho que é porque não estou bem.

Eu só queria estar bem.

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