sábado, 12 de junho de 2010

Sua cara!

"Help! I need somebody...
Help! Not just anybody...
Help! I know I need someone...
Heeeeeelp!"
(Help!, The Beatles)


Adoro quando alguém diz "Sua cara" quando revelo algo que fiz ou falei ou pensei. Porque, no fundo, [lá vem o mimimi] isso mostra que eu passo uma identidade. Agora, de vez em quando, nem eu mesmo sei se tenho ou quero ter mesmo a identidade que eu passo.
Tá, ficou confuso. Mas é simples. Nas últimas semanas fiz algumas coisas que me deram um estereótipo um tanto quanto pesado. A imagem de uma pessoa altruista ao extremo, que adora ajudar as pessoas e pensa nos outros o tempo todo. A princípio uma boa imagem, mas acaba se tornando algo irreal e, logo, um peso com o qual eu não sei se consigo lidar. Vou dar um exemplo; a história é longa, mas vale a pena [eu acho].
Na última sexta-feira eu esqueci que a bateria do meu celular tinha acabado e que, logo, não despertaria. Acordei às 6hs [2hs de atraso] com créditos ao sr. de Paula. Saí correndo pensando que o último ônibus que poderia pegar para Sampa era o que saía às 6h20 de Jundiaí; caso contrário iria de trem pra, já que ia chegar atrasado mesmo, pelo menos economizar a grana. Quando cheguei na garagem dos ônibus vi um deles saindo e pensei: "Fudeu. Agora vou de trem."
No caminho para o Terminal Ferroviário, que fica a 100 metros da garagem de ônibus, eu vi um cara quase no meio da rua andando despreocupado. Só depois de uns 5 segundos olhando pro sujeito percebi que ele usava uma bengala e, 1 segundo depois, que era cego. Pensei: "Já tô ferrado mesmo" e me apressei em direção ao cara:
"- Ei! O senhor tá no meio da rua! Quer ajuda? Tá indo pra onde?"
"- Opa, quero sim. Tô indo pro fim da rua ali. Quero ir pra padaria. Pra padaria no fim da rua ali. Na padaria."
Enquanto eu achava engraçado o fato do ceguinho falar "ali" eu apoiava a mão esquerda dele no meu ombro. Ele sem a menor pressa ia andando e dando bengaladas no chão enquanto eu tentava tirá-lo rapidamente do meio da rua.
Durante o caminho até "ali" eu ficava atento aos obstáculos enquanto ele resmungava coisas que variavam entre "Deus me ajuda", "Pegaram até meu boné. Nem ligo." e "Mas também! Olha o tamanho do rapaz. É o Magic Johnson!(sic)"
Depois de 8min guiando o senhorzinho e de deixá-lo na padaria [até onde ouvi] gritando "Seu Joel! Seu Joel! O rapaz me troux...", eu fui correndo pro Terminal; já pensando em ligar pra algum colega e ver como eu resolveria o fato de que teria prova na primeira aula e chegaria atrasado.
No caminho olho novamente pra garagem dos ônibus e vejo um parado, com passageiros embarcando rumo a São Paulo; e percebo que o primeiro que vi saíra atrasado e que este seguia o mesmo caminho.
Corri pra garagem e pedi para o motorista esperar, que era urgente. Enquanto ele resmungava, comprei a passagem e me joguei dentro do ônibus; feliz da vida [sim, porque ajudei o ceguinho, mas também porque, pelo ônibus estar atrasado, o motorista iria voando pra São Paulo e, logo, eu chegaria em cima da hora. Mas ainda a tempo de arranjar uma desculpa pra fazer a prova].
Moral da história: ajude ceguinhos! Brincadeira. É um bom conselho, mas não é essa a moral.
Falando sério, às vezes parece que eu conto e faço as coisas pensando em como eu vou ser visto por fazer ou falar essas coisas. Não queria que fosse assim. Também não queria passar a impressão de que ajudo qualquer um. Não é verdade. Não sou Gandhi, nem Jesus[, nem Magic Johnson]. Me sinto bem, sim, quando ajudo alguém. Mas num me sinto na obrigação de ajudar a todos só porque, nos últimos dias, têm aparecido situações que me exigiram uma atenção especial ao que se passava ao meu redor. Salvo raras excessões, como esta, eu ajudo quem eu gosto, porque quero. Não é por caridade, por altruismo, muito menos por obrigação ou por medo de ficar com peso na consciência.
Quero passar uma boa impressão? Sim. Formar uma boa identidade? Com certeza. Mas, assim como todo mundo, quero fazer simplesmente o que me faz bem. Só isso.

Um comentário:

  1. Na verdade, a opinião alheia muito influencia nas nossas atitudes, isso é inquestionável, mas antes dessas passarem a influenciar e termos noção delas, temos também alguns princípios, no caso,ajudar alguém em dificuldade. Se você não identifica isso como algo seu, pode ser pq anteriormente vc não tivesse tido uma oportunidade parecida. Quem sabe não tenha sido uma qualidade recentemente descoberta??
    ahahah
    =)

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